Marés Vermelhas e a Segurança de Moluscos Bivalves

03/06/2021

Para muitas pessoas, o verão é um óptimo momento para saborear marisco fresco, sobretudo moluscos bivalves. Mas à medida que a temperatura aumenta, podem ocorrer “marés vermelhas” em algumas águas costeiras fortemente poluídas, onde as espécies de moluscos aí encontradas podem estar cheias de toxinas. O consumo de marisco tóxico pode resultar em intoxicação alimentar ou até ser fatal. Este texto de popularização das ciências explica como a maré vermelha pode afectar a segurança dos mariscos e os riscos potenciais do consumo de moluscos bivalves1.

 

O que é uma maré vermelha?

Maré vermelha é o nome comum para proliferações de algas, que são fenómenos naturais que ocorrem em corpos de água causados pela rápida multiplicação de algas microscópicas. Quando as algas se reproduzem em concentrações muito densas, formam manchas visíveis perto da superfície da água que tornam a água vermelha ou castanho-avermelhada2.

 

Como a maré vermelha afecta a segurança do marisco bivalve?

As marés vermelhas ocorrem naturalmente, mas nem todas contêm substâncias tóxicas. As marés vermelhas ocorridas em águas costeiras são causadas em grande parte pela descarga de resíduos industriais e poluentes, por via da modernização. De acordo com a documentação, já ocorreram marés vermelhas2 na Praia de Hac Sá, na Praia de Cheoc Van e no Lago Nam Van devido à poluição da água no Delta do Rio das Pérolas3. O fenómeno da maré vermelha é um sinal de deterioração da qualidade da água, que pode ser prejudicial à vida marinha. Entrar em contacto com essa água pode irritar a pele, olhos, nariz e causar desconforto respiratório. Quando a maré vermelha é uma proliferação de algas dinoflagelados, as toxinas produzidas por estes acumulam-se no organismo dos mariscos ao longo das cadeias alimentares. O consumo de mariscos contendo toxinas pode causar intoxicação alimentar, com sintomas de gastroenterite e, em casos graves, pode mesmo ser fatal. É evidente que a maré vermelha é um fenómeno ecológico anormal que afecta a saúde humana e também o ecossistema marinho.

 

Riscos potenciais do consumo de marisco bivalve

Embora os mariscos não produzam toxinas naturalmente, eles são capazes de as acumular ao alimentarem-se de algas tóxicas ou através de uma relação simbiótica com elas. Nos últimos anos, o marisco de alto risco na China é o mexilhão verde asiático (Perna viridis), as ostras, a vieira grande (Pecten maximus) e a amêijoa de Manila (Ruditapes philippinarum), e todos eles são organismos filtradores. A quantidade de toxinas presentes em moluscos contaminados é determinada pela quantidade de algas tóxicas ingeridas e os níveis de toxicidade variam consideravelmente entre as várias partes do corpo dos moluscos, sendo mais elevados nas vísceras e gónadas.

 

Os principais tipos de intoxicação por moluscos são o paralítico, diarréico, neurotóxico e amnésico, dos quais a intoxicação paralítica é a forma mais comum de intoxicação por moluscos. Os sintomas da intoxicação paralítica por moluscos surgem geralmente entre alguns minutos a horas após a ingestão de moluscos contaminados, e incluem sensação de formigamento, dormência na boca e nos membros e desconforto gastrointestinal. Em casos graves, a vítima pode ter dificuldade em engolir, paragem respiratória e pode até causar a morte.

 

É difícil determinar se o marisco é tóxico apenas pela sua aparência, porque as toxinas do marisco são incolores, inodoras e sem sabor. As toxinas acumuladas no marisco não são destruídas pela cozedura ou processamento normal e podem dissolver-se no próprio líquido usado para cozinhar o marisco. Portanto, beber o caldo da cozedura pode ser perigoso para a saúde.

 

Notas importantes sobre a compra e consumo de marisco

  •  Como a qualidade das águas costeiras de Macau é imprópria para o cultivo de produtos aquáticos destinados ao consumo humano, o marisco de criação local pode não ser seguro para consumo. O sector alimentar e os consumidores devem comprar produtos aquáticos de fornecedores e lojas respeitáveis e informar-se sobre a origem do marisco para garantir que a sua qualidade é segura para consumo humano;
  •  Ao preparar mariscos, lave e esfregue a concha com água e remova as suas vísceras e gónadas;
  • O marisco deve ser muito bem cozido antes de se comer;
  •  Evite beber o caldo/água/molho usado para cozinhar mariscos;
  • Mantenha uma dieta equilibrada e evite comer muito marisco de cada vez;
  • Se após o consumo de moluscos sentir sintomas como náusea, vómito, diarreia e dormência dos membros, procure de imediato atendimento medico.

Leituras Recomendadas:

 

017/DIR/DSA/2020

 

[1] Aviso sobre o risco de consumo de marisco, 2020: http://www.cfda.com.cn/newsdetail.aspx?id=130946

[2] Estudos preliminares sobre as causas de marés vermelhas excepcionais nas águas de Macau: https://www.macaudata.com/macaubook/book077/html/22101.htm

[3] Informação noticiosa: As marés vermelhas ocorriam frequentemente em águas fortemente poluídas de Macau, mas a criação do “quarto espaço” combinada com as três sofisticações irá melhorar a qualidade da água: https://www.themacaonews.com/week_new/201703298/