Resumo
- Os ésteres glicidílicos (GEs) e ésteres de cloropropilenoglicol (3-MCPDEs) são essencialmente elementos contaminantes gerados de modo natural durante a refinação industrial de óleos vegetais, em circunstâncias em que estes são aquecidos aproximadamente a uma temperatura igual ou superior a 160ºC. Ambos os contaminantes podem ser encontrados em óleos vegetais refinados e em géneros alimentares confeccionados a partir destes (p. ex. óleo de palma, margarina, biscoitos, batatas fritas ou massas instantâneas);
- Ésteres glicidílicos e ésteres de cloropropilenoglicol encontrados nos alimentos são decompostos pelo corpo humano e libertam glicidol e cloropropilenoglicol, respectivamente, causando potenciais problemas de saúde;
- O sector alimentar deve tomar como referência o Código de Prática da Comissão do Codex Alimentarius e seguir o princípio ALARA (“tão baixo quanto razoavelmente possível”), de modo a minimizar o teor de ésteres glicidílicos e ésteres de cloropropilenoglicol nos alimentos;
- O público deve manter uma dieta equilibrada e diversificada, assim como tentar minimizar o consumo de alimentos com alto teor de óleo.
Introdução
Em anos recentes, os relatórios de investigação têm indicado a existência de ésteres glicidílicos e ésteres de cloropropilenoglicol em óleos vegetais refinados e alimentos confeccionados a partir destes, incluindo óleo de palma, margarina, óleo de sésamo, produtos cozidos no forno (como biscoitos) e alimentos fritos (como massas instantâneas e batatas fritas). Este artigo visa expor as fontes de ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol , os seus potenciais riscos para a saúde e a regulamentação a nível internacional e local, assim como fornecer recomendações ao sector alimentar e o público em geral, na esperança de aumentar a tomada de consciência e o conhecimento sobre esta matéria.
Fontes de ésteres glicidílicos e ésteres de cloropropilenoglicol em produtos alimentares e seus potenciais riscos para a saúde
Vários tipos de óleo vegetal (como óleo de palma, margarina e óleo de sésamo) requerem uma série de processos de refinação industrial antes de serem transformados em ingredientes alimentares. Estes processos incluem a degomagem, neutralização, branqueamento e desodorização, etc, de modo a tirar os odores desagradáveis das plantas e as substâncias tóxicas das sementes. Os ésteres glicidílicos e ésteres de cloropropilenoglicol são principalmente elementos contaminantes gerados de modo natural durante a refinação industrial de óleos vegetais, em circunstâncias em que estes são aquecidos aproximadamente a uma temperatura igual ou superior a 160ºC. No caso dos óleos vegetais, há muitos factores que influencia a formação de ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol durante o processo de refinamento, incluindo as práticas agrícolas relativas aos óleos vegetais (p. ex., cultivo de frutas e sementes, clima, solo, etc.) e os métodos de processamento utilizados para a refinação dos óleos vegetais (p. ex., processamento dos óleos em bruto, degomagem, etc.). Estes factores podem afectar o teor das substâncias precursoras de ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol. Caso estas substâncias possam ser eliminadas ao máximo na fase inicial do processamento, a possibilidade de formação subsequente de ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol pode ser eficazmente reduzida.
Os ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol podem ser encontrados em óleos vegetais refinados (por exemplo, óleo de palma e margarina) e alimentos confeccionados a partir destes (por exemplo, biscoitos, batatas fritas, massas instantâneas e fórmulas infantis). De acordo com os estudos, o óleo de palma e alimentos confeccionados a partir deste possuem níveis particularmente elevados de ésteres glicidílicos e de cloropropilenoglicol, que são decompostos pelo organismo humano e levam à libertação de glicidol e cloropropilenoglicol , respectivamente. Embora actualmente não existam provas suficientes para se comprovar que o glicidol e o cloropropilenoglicol causam cancro no ser humano, tendo em conta a genotoxicidade e a carcinogenicidade do glicidol em animais de laboratório, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) classificou o glicidol como substância “provavelmente cancerígena para os seres humanos” (Grupo 2A), e o cloropropilenoglicol como “possivelmente cancerígena para os seres humanos” (Grupo 2B).
Regulamentação internacional e em Macau
Actualmente, a Comissão do Codex Alimentarius não estabeleceu padrões para ésteres glicidílicos em produtos alimentares; e a Comissão do Codex Alimentarius e alguns países e regiões (como a União Europeia) estabeleceram um limite máximo para o cloropropanodioal em alimentos designados (como óleos e gorduras vegetais e condimentos).
De modo a garantir a segurança e higiene alimentares, o IAM tem levado a cabo a inspecção aleatória dos géneros alimentícios através de testes regulares dos géneros alimentícios, testes de alimentos sazonais e investigações a alimentos específicos. Além disso, estabeleceu também um sistema de monitorização de informações sobre segurança alimentar para recolher e analisar constantemente as informações de segurança alimentar divulgadas a nível mundial e monitorizar a segurança dos alimentos disponíveis nos mercados. Sempre que são detectados riscos para a segurança alimentar em determinados alimentos, o IAM toma de imediato as medidas de prevenção e controlo adequadas, de modo a evitar a propagação de riscos de segurança alimentar, emitindo também comunicados de imprensa em tempo útil para manter o público informado e garantir a segurança alimentar em Macau.
Recomendações para o sector alimentar
- A Comissão do Codex Alimentarius elaborou o Código de Prática para a Redução de Ésteres de cloropropanodioal e Ésteres Glicidílicos em Óleos Refinados e Produtos Alimentares Feitos a partir de Óleos Refinados (Código de Prática) como ferramenta para fornecer orientações a produtores, fabricantes e outras entidades envolvidas, prevenindo e reduzindo a possibilidade de formação de ésteres glicidílicos e de cloropropanodioal em óleos vegetais refinados e alimentos feitos a partir destes óleos;
- O sector deve tomar como referência o Código de Prática e levar a cabo medidas concretas de mitigação que se adequem aos seus produtos, tais como:
- Os produtores de óleos vegetais refinados devem pôr em prática boas práticas agrícolas e de fabrico para remover, tanto quanto possível, substâncias precursoras nas fases iniciais do processamento, reduzindo a formação de ésteres glicidílicos e de cloropropanodioal em óleos vegetais refinados;
- Os fabricantes de produtos alimentares podem usar óleos vegetais refinados com teor mais baixo de ésteres glicidílicos e de cloropropanodioal como ingredientes alimentares, assim como reduzir o teor de óleo vegetal refinado usado na produção de alimentos, de modo a reduzir o teor destes contaminantes nos alimentos.
- O sector também deve seguir o princípio ALARA (“tão baixo quanto razoavelmente possível”) e tomar diversas medidas de mitigação, de forma a possivelmente minimizar o teor de ésteres glicidílicos e de cloropropanodioal nos alimentos.
Recomendações para o público em geral
- Ao comprar produtos alimentares, o rótulo na embalagem deve ser lido atentamente, prestando-se especial atenção a informações relativas aos ingredientes, prazo de validade ou condições especiais de armazenamento ou de uso;
- Uma vez que os óleos vegetais refinados são uma das principais fontes de ésteres glicidílicos e os de cloropropanodioal, o público deve reduzir quanto possível o consumo de óleos vegetais refinados e alimentos feitos a partir destes, de maneira a diminuir a probabilidade de ingestão destes poluentes;
- O público deve manter uma dieta equilibrada e diversificada para reduzir os riscos causados pela preferência por certos alimentos.
Referências:
- Code of practice for the reduction of 3-monochloropropane-1,2-diol esters (3-MCPDEs) and glycidyl esters (GEs) in refined oils and food products made with refined oils (Codex Alimentarius Commission) 2019
BRR 003 DAR 2024