Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar

15/04/2019

Em 2019, Macau teve um período de Ano Novo Lunar quente e húmido. Segundo as estatísticas da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, nos meses de Inverno de Macau em 2018, houve apenas 18 dias com uma temperatura mínima de 12,5ºC ou menos. Foi o ano em que Macau registou o menor número de dias de baixa temperatura desde 1952 e é óbvio que as mudanças climáticas já se fazem sentir localmente. Na publicação “Segurança Alimentar – Mudanças Climáticas e o Papel da OMS”, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Janeiro de 2019, e na primeira Conferência Internacional sobre Segurança Alimentar, convocada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e União Africana (UA) na Etiópia, foi enfatizada a questão de que as mudanças climáticas provavelmente terão um impacto considerável sobre a segurança alimentar, tanto directa como indirectamente, colocando em risco a saúde pública.

 

Segundo a OMS, “Já hoje, cerca de 600 milhões – quase 1 em cada 10 pessoas no mundo – adoecem depois de ingerir alimentos contaminados e 420 mil morrem por ano. São números que podem crescer devido às mudanças no clima, que alteram os ambientes agrícola e manufactureiro, além de influenciar os comportamentos humanos, animais e das pragas”1. Os principais pontos deste artigo são extraídos principalmente dos prováveis impactos das mudanças climáticas sobre a segurança alimentar, elaborados na publicação “Segurança Alimentar – Mudanças Climáticas e o Papel da OMS”, divulgada pela OMS, para proporcionar aos leitores uma compreensão preliminar da relação entre as mudanças climáticas e os riscos que representam para a segurança alimentar.

 

Os prováveis impactos da mudança climática na segurança alimentar: 

 

  • Água e comida tornam-se mais propensos à contaminação

É previsível que as mudanças climáticas levem a uma diferente contaminação bacteriana, viral e patogénica da água e dos alimentos, uma vez que as características dos seus padrões de sobrevivência e transmissão são alteradas devido a mudanças no clima (por exemplo, de temperatura e humidade). E o uso de água contaminada para irrigação pode afectar a segurança das culturas, dos animais que consumiram as colheitas e, portanto, da resultante produção alimentar. Além disso, as mudanças na temperatura ambiente, humidade e temperatura do mar também alteram os padrões de formação de micotoxinas e fitotoxinas. Aumentará o risco de contaminação de culturas com micotoxinas, e da presença de fitotoxinas em organismos marinhos, o que poderá causar efeitos tóxicos agudos e problemas crónicos de saúde no gado e em seres humanos. 

 

  • Aumento do risco de doenças zoonóticas

Prevê-se que a mudança dos padrões climáticos altere a sobrevivência de patógenos, induzindo mudanças em doenças transmitidas por vectores e parasitas em animais, que causem mortes na vida marinha. Tal cenário poderá exigir um aumento do uso de medicamentos veterinários, possivelmente resultando no aumento dos níveis de resíduos de medicamentos veterinários em alimentos de origem animal, o que representa riscos agudos e crónicos para a saúde humana, e está também directamente ligado ao aumento da resistência antimicrobiana em humanos e patógenos animais. 

 

  • Resíduos de pesticidas e de contaminantes ambientais em alimentos

Com as mudanças nos sistemas agrícolas e nas práticas dos agricultores para se adaptarem às mudanças climáticas, é uma preocupação constante a aplicação de pesticidas e os resíduos subsequentes em alimentos. Além disso, o aumento da frequência das inundações ligadas às mudanças climáticas pode resultar na contaminação de solos agrícolas e de pastagens por contaminantes químicos, como pesticidas, metais pesados e dioxinas, o que agrava ainda mais a segurança alimentar. 

 

  • Crise alimentar

As mudanças climáticas contribuem para eventos climáticos extremos, como secas e inundações, que causam uma diminuição nas terras agrícolas, o que, por sua vez, afecta a produção e o suprimento de alimentos.

 

Para o IAM, como departamento do governo responsável pelo controlo da segurança alimentar, a prevenção e a redução de riscos foram sempre os principais objectivos, a fim de garantir a segurança alimentar em Macau. Sendo as mudanças climáticas uma questão global e como Macau depende muito do fornecimento de alimentos importados, o IAM prestará cada vez mais atenção ao impacto das alterações climáticas na segurança alimentar de Macau, tomando medidas preventivas e de controlo, sempre que necessário, contra qualquer possível risco alimentar.

 

Nota:

1. “Estimativas da OMS sobre a sobrecarga global de doenças transmitidas por alimentos”. Organização Mundial da Saúde, Genebra, 2015.

 

(http://apps.who.int/iris/bitstream/handl e/10665/199350/9789241565165_eng.pdf?sequence=1.)

 

021/DIR/DSA/2019