【Divulgação Científica sobre Segurança Alimentar】Conheça o Álcool Falsificado e o Álcool Adulterado

20/07/2018

Na tradição de hospitalidade chinesa, beber álcool é uma prática social arraigada, espelhada no ditado, “Quando se encontra alguém congenial, beber mil taças de vinho ainda é pouco”. Os chineses celebram sempre festividades com bebidas alcoólicas e bebem em banquetes para criar um ambiente alegre nessas ocasiões. Cerveja, vinho e vodka são as bebidas alcoólicas geralmente mais consumidas. Uma vez, o detentor dos direitos de uma marca de uísque denunciou aos Serviços de Alfândega da RAEM que “Suspeitava que existiam falsificações do seu uísque à venda no mercado”. Estes produtos duvidosos foram apreendidos e enviados para o Departamento de Segurança Alimentar para análise, constatando-se que continham níveis excessivos de metanol químico, altamente prejudicial. O consumo imoderado desses destilados pode ser perigoso para a saúde.

 

Como se fabrica o álcool?

É um processo de fabricação complexo, que pode levar de uma semana a alguns ou muitos anos, e inclui desde a selecção dos ingredientes de base, fermentação, destilação e processamento até ao envelhecimento. No processo de fabrico do álcool há muitos compostos químicos que são produzidos naturalmente, como 10% a 15% do etanol é formado por acção da fermentação de levedura, bem como impurezas, incluindo metanol, vários tipos de álcool superior, carbamato etílico e outros metabólitos. Alguns tipos de impurezas dão realmente um sabor único às bebidas alcoólicas, ao passo que outras são prejudiciais à saúde. Em geral o consumo semanal moderado de álcool é considerado um “Risco de saúde tolerável”. Mas o consumo imoderado de álcool a longo prazo e o consumo de bebidas alcoólicas contendo impurezas nocivas em excesso é prejudicial à saúde e pode resultar em intoxicação alcoólica aguda ou crónica.

 

O que é o álcool falsificado?

Refere-se a bebidas alcoólicas embaladas para se parecerem com marcas registadas conhecidas e legalmente produzidas, infringindo assim os direitos de propriedade dos legítimos fabricantes, além de os seus componentes não atenderem aos requisitos legais do país de produção ou países onde é comercializado, contendo por exemplo teores excessivos de substâncias nocivas, ou serem confeccionadas com álcool industrial barato, corantes químicos e especiarias. O álcool falsificado é geralmente vendido a granel ou em embalagens falsificadas de bebidas alcoólicas de marca, uma vez que a sua produção e comercialização não obtiveram as autorizações ou licenças necessárias das autoridades locais. Em todo o mundo são frequentes os incidentes, com sérios danos para a saúde, causados pelo consumo de álcool falsificado. Todos os anos, há notícias na Europa, Ásia e Américas sobre o comércio ilegal de álcool falsificado que causam mortes e por isso a falsificação de bebidas alcoólicas é hoje uma ameaça global à segurança alimentar.

 

Por que existe falsificação de bebidas alcoólicas?

O “Relatório Global sobre o Álcool e a Saúde”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2014, revelou que o consumo mundial foi de 6,2 litros de álcool puro por pessoa com 15 anos ou mais, o que se traduz em 13,5 gramas de álcool puro consumido por dia. De todos os álcoois registrados consumidos em todo o mundo, 50,1% foram consumidos na forma de destilados, sendo a cerveja o segundo tipo de bebida mais consumida, correspondendo a 34,8%. É evidente que existe, a nível mundial, uma tremenda procura e oferta em bebidas alcoólicas, uma vez que é uma indústria muito lucrativa. A falsificação de bebidas alcoólicas famosas e caras, como uísque, vodka e destilados de sorgo, pode gerar lucros astronómicos.

 

O que se entende por álcool adulterado?

As unidades de produção de álcool adulterado geralmente operam em más condições de higiene, com equipamentos envelhecidos e desgastados e com um processo de fabrico aleatório. Há falta de controlo de qualidade e são frequentemente utilizados ingredientes alimentares já deteriorados. Os produtos finais geralmente contêm altos níveis de micotoxinas, metais pesados e substâncias químicas nocivas, que têm efeitos adversos sobre a saúde humana quando ingeridos a longo prazo. Além disso, para reduzir os custos, os produtores não submetem o álcool produzido a destilações sucessivas, pelo que contém elevados níveis de impurezas voláteis, nomeadamente elevado teor de metanol.

 

Quais são os efeitos nocivos do metanol na saúde humana?

O metanol só por si não é tóxico, mas ao oxidar com a enzima álcool desidrogenase (ADH) no corpo humano gera formaldeído tóxico, que posteriormente é convertido em ácido fórmico altamente tóxico. Num curto período de tempo, o corpo é capaz de metabolizar pequenas quantidades de ácido fórmico em dióxido de carbono e água, que são depois eliminadas do organismo. A presença de níveis excessivos de ácido fórmico pode inibir a respiração celular aeróbica, causando hipóxia celular e morte celular necrótica. Uma alta concentração celular de ácido fórmico aumenta a acidez dos tecidos do corpo e quando o corpo se torna excessivamente ácido, o metabolismo celular é afectado, prejudicando o funcionamento dos órgãos. A "acidose metabólica", causada pela ingestão excessiva de metanol, afecta negativamente o sistema nervoso, e pode provocar muitas vezes cegueira. Nos casos mais graves, as vítimas perdem a consciência, desenvolvem falência de múltiplos órgãos e acabam por morrer.

 

O álcool genuíno contém metanol?

Frutas, batatas e grãos de cereais ricos em pectina são a matéria-prima principal para a fabricação de bebidas alcoólicas. Durante o processo de fermentação alcoólica, a pectina é decomposta por enzimas, e o metanol produz-se naturalmente. A repetida destilação por calor do álcool bruto é um método eficaz para reduzir o nível de impurezas, convertendo o metanol e outros compostos voláteis em etanol (álcool consumível) e substâncias extraíveis. A destilação repetida ajuda a reduzir as impurezas nocivas e aumenta a pureza e grau de concentração das bebidas alcoólicas.

 

Regulamentação mundial das bebidas alcoólicas

Actualmente, muitos países, incluindo a China, os Estados Unidos, a União Europeia e a Austrália, estabeleceram requisitos específicos para o controlo de qualidade e segurança de bebidas alcoólicas e promulgaram legislação e normas de segurança alimentar para reforçar a sua eficácia. Por exemplo, as bebidas alcoólicas são classificadas pelo seu teor alcoólico, havendo Limites Máximos de Resíduos para as impurezas nocivas e os tipos de aditivos alimentares que são permitidos na sua produção. Estas medidas estão em vigor e servem para regular e controlar a qualidade das bebidas alcoólicas.

No entanto, os critérios utilizados na segurança alimentar são muito diferentes daqueles utilizados pelos enólogos para determinar a valia (preço) das bebidas alcoólicas, que são “Cor, aroma, sabor, força e persistência do sabor residual, reputação da marca e fidelização do cliente”. É evidente que o preço das bebidas alcoólicas não está directamente ligado aos seus níveis de segurança.

 

Quais são os efeitos do álcool na saúde humana?

Além da cerveja e do vinho tinto, que contêm pequenas quantidades de nutrientes como vitamina B12 e antocianidinas, os perigos do álcool superam a sua contribuição nutricional e por isso é sempre aconselhável consumir menos álcool, na medida do possível. De acordo com o “Relatório Global de Situação sobre Álcool e Saúde” divulgado pela Organização Mundial de Saúde, o consumo excessivo de álcool é uma das principais causas de mais de 200 doenças, incluindo a cirrose hepática, cancros e doenças cardiovasculares. A nível mundial ocorrem por ano cerca de 3,3 milhões de mortes devido a doenças e acidentes relacionados com o álcool. Mas o mais preocupante é a prevalência do seu consumo entre os jovens. Além disso, o consumo mundial de álcool ocorre principalmente na forma de bebidas destiladas, cujo consumo a longo prazo pode resultar em dependência do álcool, comprometendo a coordenação física e a cognição, causando osteonecrose da cabeça do fémur associada ao álcool, além de uma maior susceptibilidade a transtornos mentais. Bebés, crianças, jovens, gestantes e mães que amamentam não devem ingerir álcool pois tal prejudica o desenvolvimento físico e intelectual dos menores de idade.

O uso moderado de álcool por adultos é geralmente aceite. Em termos de consumo diário de álcool, os consumidores podem tomar como referência a recomendação das “Directrizes Dietéticas Chinesas (2016)”, ou seja, o equivalente a menos de 25g para homens adultos e não mais que 15g para mulheres adultas. O quadro a seguir mostra a ingestão diária recomendada para os vários tipos de bebidas alcoólicas:

 

Ingestão diária de álcool recomendada pelas Directrizes Dietéticas Chinesas (2016)

Graduação alcoólica 

5%

12%

40%

Bebidas alcoólicas

Cerveja e cervejas frutadas 

Vinho tinto, vinho branco e champanhe

Brandy (conhaque), uísque, vodka e destilados de sorgo

Homens adultos

750ml

250ml

100ml

Mulheres adultas

450ml

150ml

75ml

Do ponto de vista da saúde, temos que exercer autocontrolo sobre a nossa ingestão diária de bebidas alcoólicas para evitar sobrecarregar o organismo com o metabolismo contínuo do álcool, que pode resultar em intoxicação alcoólica.

 

Como reduzir os riscos de segurança alimentar na selecção de bebidas alcoólicas?

Restaurantes, bares e lojas de venda a retalho devem comprar apenas bebidas alcoólicas genuínas a distribuidores ou agentes licenciados, em conformidade com a lei, e manter os documentos relacionados, como facturas e recibos, para identificação e rastreio de quaisquer produtos, caso seja necessário. Nunca se devem vender bebidas alcoólicas de origem desconhecida ou distribuídas a granel e nunca se devem servir bebidas alcoólicas a adolescentes e mulheres grávidas. Quanto aos consumidores, devem controlar a sua ingestão diária de bebidas alcoólicas e abster-se do seu consumo durante períodos de doença e enquanto estiverem sob medicação. Caso não se sinta bem depois de beber álcool, procure de imediato atendimento médico. E nunca consuma bebidas alcoólicas, se tiver alguma dúvida sobre a sua qualidade e segurança.